terça-feira, 21 de agosto de 2007

Quem é meu irmão? - Cap. 8

Capítulo 8 - Comunhão de Consciência - A família mais próxima
Dentro da Comunhão Cristã (“Em Cristo”), há uma subcategoria chamada de Comunhão de Consciência. Trata-se da Comunhão com as pessoas que crêem em aspectos doutrinários, de estilo de louvor e de métodos mais parecidos com os nossos. De certa forma, por causa disso existem pelo menos 4 instituições diferentes dentro do Movimento da Restauração: Igreja Cristã, Discípulos de Cristo, Igrejas de Cristo (unidas e independentes) e Igreja de Cristo Internacional. Não significa necessariamente que as diferenças sejam sempre definidas por instituição, já que dentro das Igrejas de Cristo, por seu caráter autônomo de organização, essas diferenças acontecem de congregação para congregação. Mas o fato é que, independente de ser de instituição para instituição ou, de congregação para congregação, há diferenças entre os filhos de Deus. E algumas dessas diferenças ferem a consciência de alguns irmãos. Principalmente aquelas que podem ser vistas e que envolvem aspectos coletivos e não individuais, como por exemplo, o estilo de louvor.
Duas perguntas são feitas para nos fazer pensar nessas diferenças e na maneira como lidamos com elas: “Quando os pecadores respondem ao chamado de Cristo para crerem, se arrependerem e serem batizados, alguma teologia adicional é necessária para alguém se tornar cristão? Se no processo de se tornar cristão não é necessário que uma pessoa faça um credo confessional sobre predestinação, pecado original e impossibilidade de apostasia, como pode a ‘Comunhão em Cristo’ ser abalada por esses erros doutrinários?” Ninguém precisa saber se o culto deve ser com instrumentos ou não, ou, se deve haver um ou mais que um presbítero na congregação, para ser salvo. Logo, esse tipo de diferença não deveria quebrar nossa “Comunhão em Cristo” como irmãos.
A “Comunhão de Consciência” está dentro da “Comunhão em Cristo”. Todos fazem parte da Grande Família. É onde se diz: “Somos irmãos, mas seguimos caminhos diferentes”.
Mas enfim, em que pontos nós deveríamos nos separar (não significa divisão espiritual)? A resposta é que alguns aspectos de diferenças referem-se somente à questões de convicção individual enquanto outros afetam diretamente a Igreja. Acreditar que os dias da Criação eram literalmente de 24 horas não tem impacto na Igreja. Por outro lado, mudar o louvor no culto que não utilizava instrumentos para um que utiliza instrumentos (e vice-versa) afeta a consciência de várias outras pessoas.
É permitido então haver grupos ou instituições que compartilham das mesmas convicções e que se reúnem separadamente de outros (as) que pensam de maneira diferente (não se fala aqui de divisões individuais e espirituais nas congregações que são satânicas)? Sim, na Igreja do 1º século Judeus e Gentios discordavam em termos de adoração e doutrina; eles receberam o mandamento apostólico de viverem de acordo com suas consciências. Eram ambos, filhos de Deus unidos, mas distintos. Quando os Judaizantes tentaram impor suas regras de consciência aos gentios cristãos, os apóstolos falaram sobre convivência em paz e aceitação mútua.
Se, porém há essa liberdade para se reunir com aqueles que compartilham a mesma consciência que nós, não quer dizer que podemos denegrir, nem desrespeitar, nem ignorar os demais que são da “Comunhão em Cristo”. O que também não significa deixar de condenar algum erro doutrinário de muita relevância como a união homossexual, por exemplo. Os apóstolos fizeram questão de dar instruções aos gentios sobra a vida que deveriam ter, enfatizando que a imoralidade sexual (que era uma prática social comum entre eles) deveria ser evitada, entre outros assuntos. Não era algo como “viva e deixe viver”. É preciso dentro da Comunhão em Cristo, conversar fraternalmente sobre as diferenças.
O trecho da Bíblia que mais é usado para legitimar a “Comunhão de Consciência” é Romanos 14 e início de Romanos 15. Quatro ensinamentos são relevantes na interpretação da passagem: 1) haverá inevitavelmente assuntos controversos nas quais os cristãos irão discordar; 2) nesses assuntos, todo cristão deve praticar o que sua própria consciência o leva a praticar; 3) todo cristão vai ser cobrado por Deus pelo que acredita e pratica em aspectos de sua consciência e; 4) por mais que haja questões que são vistas por cristãos mais maduros como mais simples ou sem importância, os mesmos têm a obrigação de evitar ferir a consciência do irmão “mais fraco”.
Pelo fato de que todos serão julgados por Deus pelo que crêem e fazem, o autor assume a postura de que respeitar a consciência dos outros não significa fechar a boca e não dizer nada sobre assuntos doutrinários e controversos, nem tentar em oportunidades espirituais explicar mais corretamente através de argumentos reais e válidos. Se não fazemos isso estamos deixando de praticar o “falar a verdade em amor”. Isso deve ser feito em momentos oportunos. “Na Comunhão de Consciência nunca se diz ‘como você adora a Deus é algo que não tem muita relevância’. Somente se diz: ‘Nós podemos ter liberdade para adorar e praticar em consciência perante Aquele que vai julgar todo pensamento, ação e doutrina’” (SMITH, 1997, p. 148).
Separar-se por consciência também não significa quebrar a “Comunhão em Cristo”. Gentios apoiaram as Igrejas de judeus com sua ajuda financeira e trabalharam em harmonia. Por várias vezes, no decorrer do livro, o autor usa o termo bíblico em grego que define esse relacionamento: koinonia, que significa relacionamento que transcende barreiras sociais, étnicas, culturais e econômicas, por causa do mesmo Pão que comemos (1 Coríntios 10.16-17). A Santa Ceia que participamos é muito mais que um simples ritual, mas tem além dos significados relacionados com a lembrança da morte de Cristo em nosso favor, um sentido de união, de participação mútua por parte daqueles que foram eleitos por Deus. Deixando à parte estilos de organização da Ceia, todos nós tomamos e participamos do mesmo Pão e por causa disso fazemos parte do mesmo corpo; a Igreja. Por participarmos do mesmo Pão, não podemos quebrar o relacionamento koinonia por outras questões, através de um espírito de contenda, divisão, inveja e orgulho.
O que também ocorre algumas vezes é que a separação legítima motivada por questões de consciência, se torna com o passar do tempo algo satânico motivado por ego e orgulho. A “ponta do iceberg” são as doutrinas, mas por diversas vezes vem precedidas desses pecados. Também não é uma questão de ser conservador ou liberal em aspectos doutrinários; ambos os grupos podem ser motivados por orgulho e partidarismo.
Por fim, Jesus disse ao tratar sobre Satanás, que um reino que luta contra si mesmo está enfraquecido (Mateus 12.25). Perdemos tempo lutando uns contra os outros e nos enfraquecendo, enquanto outras almas perdidas precisam de nossa ajuda.
(CONTINUA...)

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