terça-feira, 21 de agosto de 2007

Quem é meu irmão? - Cap. 3

Capítulo 3 – Não chegou pelo “Expresso da Madrugada”
Uma mudança de convicção não acontece de uma hora para outra. No momento em que as situações são vistas com clareza, percebe-se que “por trás da cortina” já estavam acontecendo.
O autor aponta algumas causas dessa abrupta mudança em torno do desejo de unir-se a outros grupos a qualquer preço; sem muita avaliação.
O primeiro aspecto diz respeito à superficialidade das aulas bíblicas; tanto sermões quanto a escola dominical tem um teor muito fraco e, sem uma visão mais profunda à respeito da Bíblia. O louvor no culto tem tomado mais tempo do que o ensino da Palavra. Passar de meia hora num sermão é proibido; além é claro da falta de qualidade dos sermões. Também alguns ministérios específicos como crianças e jovens têm se enfocado mais em atividades “legais” do que em ensinar sobre Deus. Enfim, ambos, mais velhos e mais jovens, têm se perdido por falta de conhecimento. Uma Igreja sem estudo bíblico consistente é uma Igreja beirando a morte.
O segundo aspecto diz respeito ao crescimento da Igreja. A Igreja do 1º século presenciou um crescimento fenomenal advindo do evangelismo através da Proclamação. Uma outra forma de crescimento é através da procriação. Famílias aumentam em número e os filhos são batizados. Isso ocorreu com as Igrejas de Cristo até o período das Guerras Mundiais, mas com a diminuição das famílias, tendo somente dois, no máximo três filhos, o crescimento perdeu a força. E as crianças deixaram de ter aquele entusiasmo pela Igreja e foram atraídas pelo mundo.
Ainda sobre o crescimento, outra questão diz respeito ao número de denominações competindo pelo mesmo número de pessoas de uma região. Algumas estratégias foram adotadas. A arquitetura dos prédios mudou por causa disso: cozinhas para realizar “almoços animados”; quadras de esporte para os jovens; e assim manter as estatísticas altas. Associado a isso, as pessoas começaram a procurar igrejas para atender suas necessidades humanas: programas para os filhos, pregador eloqüente e, um formato de culto excitante. É o fenômeno das mega-igrejas: as que têm mais condições de realizar eventos e coisas atrativas para as pessoas crescem; as que não têm tornam-se cada vez menores. Assim, as Igrejas de Cristo que adotam um formato de culto simples, com música sem instrumentos e, sem “coisas excitantes”, perdeu espaço para as mega-igrejas denominacionais. A conseqüência final disso: após se perguntar “O que fazer para crescer?” percebeu-se a tendência que se vê; aceitar todos independentemente de doutrina, enfatizando aspectos mais gerais da fé cristã. É claro que nesses aspectos não estava contido o Batismo.
Segundo o autor, “[...] apostasia surge quando se perverte a idéia de acomodação (mudança). Nós estamos acomodando as pessoas por causa da Verdade ou acomodando a Verdade por causa das pessoas?” (SMITH, 1997, p. 57; tradução livre minha). Na era das mega-igrejas crescimento é uma ilusão. “E, se crescimento significa mais do que fidelidade à Palavra, você pode estar certo de que não é Deus que está acrescentando pessoas à Igreja” (SMITH, 1997, p. 57). É um crescimento a qualquer custo.
O terceiro aspecto e talvez seja o mais complexo, diz respeito ao tipo de Hermenêutica[i] utilizada na interpretação bíblica. Tem ocorrido uma mudança, defendida principalmente por parte daqueles que defendem essa união a qualquer custo com outros grupos, de uma velha para uma nova hermenêutica. A velha hermenêutica, tradicionalmente usada nas Igrejas de Cristo, é caracterizada por ser demais objetiva, orientada pelos fatos bíblicos, sistemática, racional e enfoca os mandamentos bíblicos, os exemplos e qualquer inferência que pode ser extraída de ambos. Também é focada nas cartas e na organização da Igreja descrita nelas. A nova é meio sem definição e, foca-se na narrativa, na estória, na Cruz e em Cristo. Uma objetiva e a outra subjetiva. Segundo o autor há um problema em ir de uma para outra de uma só vez. Mover-se de um extremo ao outro pode ter conseqüências dramáticas na teologia. Na verdade o que deveria ocorrer era a utilização de ambas e a habilidade de lidar com ambas. “Tanto coração quanto mente. Fatos e estória. Orientação para Igreja e foco em Cristo. Lei e Graça” (SMITH, 1997). O que não pode ocorrer é uma mudança de doutrina para um pragmatismo que busca os resultados de crescimento numérico a qualquer custo.
[i] O conceito exato desse termo (e também do termo exegese) apresenta diferenças, a depender do autor, mas em geral significa a ciência de interpretação bíblica que tem como objetivo a aplicação do significado das passagens para o leitor no contexto atual.


REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Editora Vida, 2000.
SMITH, F. LaGard Who is my brother?: facing a crisis of identity and fellowship. Nashville: Cotswold Publishing, 1997.
(CONTINUA...)

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