terça-feira, 21 de agosto de 2007

Quem é meu irmão? - Cap. 2

Capítulo 2 - O Fantasma dos argumentos “Somente Fé” (Reforma Protestante)

O autor usa como exemplo uma pregação de um renomado pregador que trazia em sua fala esse desejo de união. Dois pontos eram enfatizados nesse sermão: 1) a Salvação simplesmente deve vir somente através da fé e; 2) desde que há cristãos em outras denominações e esses são salvos, nós devemos ter Comunhão com eles como povo de Deus, como irmãos e irmãs em Cristo. Um dos argumentos é de que há “cristãos” cheios do Espírito que não foram biblicamente imersos e, que alguns até escreveram livros que nos ajudam muito (Charles e Chuck Swindoll, James Dobson, etc).
Quem pensa como descrito acima, segundo o autor, estabelece um paradoxo (ou mesmo uma luta) entre fé e obras.
Claro que se alguém perguntar: “Pelo que somos salvos? Pela fé ou pelas obras?”. A resposta é clara: pela FÉ. Senão haveria uma contradição de Efésios 2. 8-9 “Pois vocês são salvos pela Graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie” (NVI). A partir do momento em que se pensa no Batismo como uma obra, seria como se anulasse a Salvação que vem por meio da fé. Mas LaGard Smith faz as seguintes perguntas para argumentar o contrário:
Nós cremos que tudo que fazemos em resposta da Graça de Deus é uma obra? Se sim, então ter fé e aceitar Jesus, é por si só uma obra. Quando Jesus foi questionado pela multidão próximo à Galiléia, “O que precisamos fazer para realizar as obras que Deus requer?”(NVI), ele respondeu, “A obra de Deus é esta: crer naquele que ele enviou”. Se for o caso, “fé-somente”, como é popularmente usado, seria não menos uma “obra” que o Batismo (Igualmente, se a insistência de que o Batismo (imersão) é legalista, como muitos dizem, logo, a insistência em “fé-somente” não seria menos legalista) (SMITH, 1997, p. 37-38; tradução livre minha).
Biblicamente não se estabelece em nenhum momento um paradoxo (separação) entre fé e Batismo. “Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus, pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram” (Gálatas 3.26-27) (NVI). Batismo e fé nos exemplos bíblicos e nas afirmações de Paulo andam juntos; não há como separar uma coisa da outra. A questão é que a fé obediente inclui o Batismo. Mas o que alguns fazem é como se divorciassem a “cláusula da fé da cláusula do Batismo”[i].
Um outro problema que há, consiste numa interpretação insuficiente das idéias dos reformadores que propuseram um sistema de fé contra um sistema de obras (no caso, os sacramentos Católicos). O próprio Lutero, apesar de aceitar o Batismo infantil e o fazer de uma forma diferente (aspersão), acreditava que o Batismo era definitivamente necessário pra a Salvação.
Segundo o autor também, “a própria história desse pensamento, é o maior argumento contra ele próprio”. Quando Ulrich Zwingli separou-se de Lutero na Reforma, o fez por causa das questões dos sacramentos; ele percebeu que a eucaristia, biblicamente falando, era simbólica, mas aplicou a mesma lógica para o Batismo. Sendo o Batismo simbólico, para que praticá-lo? E assim começou uma doutrina desconhecida até aquele momento, que se espalhou predominantemente entre os Batistas e, no mundo evangélico em geral: a na essencialidade do Batismo para a Salvação.
“Digo-lhes a verdade: ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da Água e do Espírito” João 3.5 (NVI).
Como pode uma pessoa se tornar um cristão sem nunca ter entrado no Reino de Deus através do Batismo?
E o que Ananias disse a Saulo em Atos 22.16? “’E agora, que está esperando? Levante-se, seja batizado e lave os seus pecados, invocando o nome dele’” (NVI). Pode uma pessoa ser um cristão sem ter seus pecados perdoados?
E à luz de Atos 2.38, (onde os que creram receberam a ordem de se arrependerem e de serem batizados “para a remissão dos pecados”) pode ser dito que Batismo absolutamente não tem nada a ver com Salvação?
Há também o problema em definir o círculo de Comunhão de acordo com a maneira como se vive: se a pessoa vive corretamente, está dentro; se deslizar um pouco está fora. É claro que se um irmão vive pecando deliberadamente, ele se afasta ou é afastado da Comunhão. Mas a lógica apontada por LaGard Smith é de que é inconsistente definir como um cristão entra no Reino de Deus, através da maneira como ele sai do Reino. Paulo em várias cartas (1 Coríntios, Efésios, Gálatas, etc) tratou irmãos em pecado como irmãos ou, como “povo santo de Deus” e, os chamou a se arrependerem. O que torna uma pessoa um cristão, não é o mesmo que o faz deixar de ser um cristão. Entra-se no Reino nascendo da Água e do Espírito. Sai do Reino através de um coração endurecido pelo pecado (1 Coríntios 5.4, 5, 13; Hebreus 3. 12-14). É necessário Fé para ser salvo? Sim. Fé-somente? Absolutamente não. (Gálatas 3.26-27).
Mas uma questão pertinente continua: O que nós devemos fazer com aquelas pessoas que crêem em Deus e não foram biblicamente Batizadas (entre eles nossos parentes e pessoas que têm influenciado a Igreja com seus livros e sermões)? A resposta é que não temos muita opção, senão engrandecer sua fé em Jesus e tentar ensiná-los o caminho de Deus. Não é à toa que o ponto doutrinário que Apolo precisou aprender de Priscila e Áquila era sobre o Batismo (Atos 18. 24-28). E os cristãos de Éfeso que se submeteram e foram batizados, pois só foram batizados no Batismo de João. Há exemplos melhores? É impossível querer união com alguém, sem querer ensinar que essa pessoa ainda não está no Reino de Deus.

[i] O uso de termos jurídicos por parte do autor é proposital, pois leciona em cursos de Direito em faculdades dos Estados Unidos.
(CONTINUA...)

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